Capítulo 1.

Ouçam as música da playlist durante o capítulo. Escolhemos músicas fortes e que combinam com a personagem principal, Summer. Boa leitura!

Chovia em Manchester. Fato esse que fez Summer ficar em casa. Mesmo que contrariada ela escolheu não sair do estranho aconchego da casa de Clarice. Sua mentora. Uma senhora que, para Summer, tinha a melhor e mais apreciável das qualidades, a de respeitar o espaço dos outros. Clarice sempre respeitou o jeito reservado de Summer e a entendeu mesmo no silêncio.

Summer, a garota de cabelos claros, quase brancos, estava na cozinha comendo uma torrada queimada e tomando um pouco de café. Ela poderia ter feito outra torrada, mas simplesmente não se importou em comer a que tinha passado do ponto. Ela foi obrigada a sempre se acostumar com o pior e não reclamar. O que uma torrada quase preta mudaria? Nada. Enquanto comia não pensando em nada ela ouvi o telefone tocar. Summer imaginou que Clarice atenderia já que estava na sala tricotando um suéter azul marinho para seu neto. Besteira. Um rapaz já crescido não precisava de mimos da avó, porém a senhora Clarice George achava que Max nunca estaria grande o bastante para parar de ganhar presentes dela. O telefone continuou tocando. Em um impulso a garota pegou o aparelho da cozinha e colocou no ouvido. A ideia de ter que falar com alguém fez seu estômago revirar. Porém, para seu alívio, Clarice tinha acabado de atender com a voz mais doce do mundo. Ela iria colocar o telefone no lugar, mas a voz do outro lado a fez ficar quieta.

– Tudo bem vovó? – A voz masculina perguntou igualmente doce. Summer automaticamente pensou sobre os genes da família George serem açucarados. Todos são sempre bem educados com ela. O pensamento bobo a fez sorrir mentalmente. – Sinto falta da sua comida. – Max riu um pouco fazendo Clarice rir também.

– Eu não posso te mandar comida pelo correio Max. Você terá que me visitar. – Respondeu ela, calma.

– Quando eu tiver um tempo de folga da banda, irei vovó.

Fazia tempos que Max não ia à Manchester. Summer só via o garoto quando Clarice, toda orgulhosa, a chamava para vê-lo na TV. Uma boyband. Summer novamente riu mentalmente. 5 babacas, na opinião dela. A garota nunca admitira nem para si mesma, mas gostava da música mais famosa da tal The Wanted.

– Eu espero. Vou te mandar um presente daqui a alguns dias.

– Presente?! – Max repetiu animado. – Vou adorar! A senhora queria falar comigo. É algo importante? – Mudou de assunto.

– Sim. Eu estou preocupada. – Clarice abaixou o tom de voz para um quase sussurro. Isso fez Summer ficar ainda mais atenta e curiosa à conversa dos dois. – Estou preocupada com a Summer.

– O que essa garota fez dessa vez? – O tom de voz de Max demonstrou algo perto de raiva e Summer ao ouvir a pergunta não ficou nada feliz também.

– Ela não fez nada Max. – Clarice o tranquilizou. – Eu só me preocupo que ela fique sozinha caso algo aconteça comigo. – Explicou ligeiramente triste.

A frase de Clarice deixou Max e Summer com um leve aperto no peito. Nada poderia acontecer com ela. Os dois precisavam dela, mesmo que a garota nunca gostasse de admitir isso. Ela não gostava de sentir afeição por ninguém. Não se permitia.

– E porque você está me dizendo isso vovó?

– Eu quero que ela vá morar com você.

Summer e Max novamente partilharam o mesmo sentimento, só que dessa vez era a surpresa. As pupilas de ambos se dilataram e as palavras sumiram da boca de Max por longos segundos.

– Eu moro com 5 garotos. Viajo muito. Eu trabalho muito. Não posso ficar de olho nessa garota. Vovó, ela nem deve gostar de mim. E ela é tão... estranha. Você acha que os garotos vão se acostumar com o jeito dela?! Nem eu...

– Maximilian George! – Clarice o repreendeu interrompendo as reclamações do garoto. Summer revirou os olhos e trincou os dentes para as lamentações de Max. Parecia um bebê chorão. – Não fale assim. Summer só é diferente. E tenho certeza que ela adorará viajar com você. Eu quero que ela se aproxime de alguém. Ficar perto dos seus amigos fará bem para ela. Por favor.

Por mais que Summer gostasse secretamente de Clarice, a mulher que a acolheu no momento mais difícil de sua vida, ela não concordava. Max e a garota estavam juntos nessa. Ambos odiaram a ideia.

– Eu vou conversar com o empresário... Não garanto nada vovó. – Ele desconversou.

– Filho, eu nunca te pedi nada nessa vida. Porém agora estou. Se você acha que essa velha aqui merece um pouco de paz, leve Summer para morar com você. Eu ficarei muito feliz de vê-la conhecendo gente nova. Eu quero que ela faça amigos em Londres, e nada melhor que sejam amigos do meu neto também. Eu sei que você cuidará muito bem dela quando eu partir.

– Não diga essas coisas vovó. – Foi a vez de Max repreender a avó. – A senhora está cheia de saúde e vida... Eu prometo que farei o que puder.

Max realmente estava odiando a ideia, entretanto um pedido tão claro de sua avó não poderia ser negado. Ele não tinha direito de negar nada à Clarice. Summer pensou o mesmo. Se havia uma coisa que ela sentia e se obrigava a sentir era gratidão à Clarice, mesmo que não demonstrasse isso em suas ações. E quando a mulher a pedisse que fosse morar com Max, o que ela poderia responder a não ser sim?!

– Merda. – Summer deixou o xingamento escapar por entre os lábios e se arrependeu no segundo seguinte.

– Qualquer coisa, você pode mandar seu empresário me ligar Max. Eu posso tentar convencê-lo. – Clarice falou aparentemente não percebendo o deslize de Summer. Mas a mulher sabia que a garota esperta estava ouvindo a conversa desde que ela parou de fazer barulho na cozinha.

– Eu creio que não será preciso, mas tudo bem. Tenho que desligar vovó. Amo você.

– Amo você também Max. Se cuide.

Os três desligaram o telefone praticamente ao mesmo tempo. Summer tentou fazer a expressão mais normal do mundo, mas é natural dela que seu rosto sempre mostre que ela esconde algo. E realmente escondia. Clarice voltou a tricotar e pensou no que diria à Summer. A conversa não seria nada fácil, principalmente pela garota ter ouvido Max a chamar de estranha.

Longe dali, após terminar de falar com a avó, Max apenas respirou fundo e pensou no quanto estava ferrado. O que seus amigos pensariam ao ver a garota estranha?! Pior, o que eles pensariam se descobrissem o passado obscuro da moça?! Nem todos estão preparados para um julgamento leve quando se trata de Summer. Ele respirou fundo novamente e ligou para seu empresário. Ele era obrigado a atender ao pedido de sua avó, mesmo sabendo que as consequências poderiam ser desagradáveis.

– Max? – Era mais que normal a surpresa na voz do Martin, o empresário da banda. Hoje era um dia de descanso para ele e os garotos depois de uma longa semana de shows e entrevistas. Para um dos meninos ligarem para ele só podia ser algo urgente.

– Ah, oi Martin. Desculpe te incomodar.

– Aconteceu algo? Vocês estão bem?

– Não, estamos bem. Eu na verdade queria lhe pedir um favor. – Max respirou fundo, ele sabia que não ia ser nada fácil tentar convencer seu empresário de trazer mais uma garota para morar com 5 caras. Ele estava torcendo para que Martin não deixasse, seria tudo bem mais fácil assim.

– Claro Max, o que é?

– Bem, minha avó ela bem... me pediu um favor. Ela é mentora de uma garota e ela me pediu para que ela more comigo por um tempo. Olha, eu sei que isso não é boa ideia. Eu falei para minha avó que você não concordaria, por isso eu já sei a res...

– Era isso? Que susto, claro que pode. Traga quem você quiser. Tem um quarto sobrando. Aquele que vocês encheram de caixas e coisas velhas. Sem problemas. – Martin respondeu leve e aliviado. No início ele havia pensado que era algo grave. Porém, ele até simpatizou com a ideia de outra garota colocando ordem na casa. Mal sabia ele quem era a garota. E como o comportamento dela não é nada parecido com o da namorada de Max.

– Sério? – Foi a vez de Max ficar surpreso e desapontado, ele esperava que Martin dissesse não. Ele queria que Martin dissesse não.

– Claro, não tem problema. Mais alguma coisa?

– N-não, era só isso. Até mais.

– Até mais.

Max sentou no sofá e passou a mão na cabeça, ele sabia que não seria nenhum pouco fácil a convivência de Summer com ele. Com eles. Os meninos não iriam se entrosar com ela, ele conhecia muito bem os amigos para saber disso, assim como ele tinha certeza de que Summer não iria se dar bem com eles, ela não se da bem com ninguém. Melissa desceu a escada sorridente, porém ao ver o rosto preocupado do namorado logo mudou de expressão. Sentou ao lado dele no sofá e tocou seu braço delicadamente.

– O que foi amor? Aconteceu algo com sua avó?

Melissa já sentia algo estranho se espalhando por ela só de pensar na dor que o namorado sentiria se algo ruim ocorresse.

– Não. – Max tentou sorrir, porém não conseguiu muito. – Só estou pensando em algo...

Melissa se afastou um pouco e colocou uma almofada em seu colo. Apesar das roupas pretas e maquiagem forte ela sempre fora muito carinhosa, principalmente com seu namorado.

– Deite aqui e me fale sobre esses pensamentos amor. Quero saber o que está te deixando assim.

Max sorriu com mais sinceridade e vontade dessa vez. Ele realmente não sabe o que faria sem a garota ao seu lado nas situações mais difíceis. Vagarosamente ele se deitou e se ajeitou confortavelmente. Um carinho foi iniciado por Melissa no rosto de Max e assim ele tomou fôlego para contar tudo que iria acontecer.

Clarice também se preparava para falar. Falar com Summer. Ela deixou o seu crochê de lado e se ajeitou na poltrona enquanto ouvia os passos da garota pela escada.

– Summer querida, pode vir aqui um minuto?

– Estou aqui. – A menina se sentou brutamente no sofá em frente, cruzou os braços e olhou para todos os lugares menos para Clarice.

– Eu sei que você ouviu a minha conversa com o Max e...

– Sim, eu ouvi. – Soltou cortando a mulher. – Olha só Clarice, não precisa defender o seu neto sobre ele ter me chamado de estranha, ele tem razão. Só um louco acharia o contrário. – Assim que ela proferiu a última frase se arrependeu ao perceber que tinha chamado Clarice de louca. Ela nunca a achou estranha de fato. – Me desculpe, eu não...

– Tudo bem querida, aproveitando o fato de você ter ouvido a conversa, acho que você já sabe o que eu vou lhe pedir, não é? – Clarice a olhou com súplica, não seria nada fácil convencer a menina que ela tem como filha de ir morar com seu neto. Summer nunca foi de ficar perto de muitas pessoas.

– Que seja. – Ela bufou e se encolheu mais no sofá encarando a porta como se fosse a coisa mais interessante. Clarice arregalou os olhos atrás dos óculos levemente. Abriu a boca para falar algo, mas a fechou e repetiu esse gesto por mais duas vezes. Hesitou surpresa. Não era comum Summer concordar logo de cara com algo, ela sempre tinha que brigar ou gritar.

– Bem... eu achei que...

– Que eu fosse fazer um escândalo, certo? Olha só, até que você demorou mais que as outras pessoas para me querer longe, mas uma hora ou outra isso ia acontecer. Sério, eu não ligo. Quem sou eu para te contrariar.

– Summer Hale, veja como a senhorita fala comigo. – Clarice elevou a voz em algumas oitavas fazendo Summer ficar surpresa. Ela nunca foi de brigar ou repreende-la, entretanto as palavras da garota foram tão duras e além do mais não eram verdadeiras. Clarice nunca quis se afastar dela, ela está fazendo o que julgava certo. – Eu jamais vou querer te afastar de mim. Eu te amo Summer. Você é como uma filha, querida. Se eu estou fazendo isso é para o seu bem, para que você viva uma vida normal...

– Eu não tenho uma vida normal desde que eu vim para essa porcaria de mundo, ok? Não vai ser agora que eu vou ter.

– Não custa nada tentar. Já está decidido. Você vai morar com Max. É para o seu bem querida, um dia você vai se dar conta disso. – As duas engoliram a seco, uma vontade enorme de chorar tomou conta de Summer, mas ela não deu o braço a torcer. Fazia anos que ela não se permitia chorar e não seria agora que ela iria fazer isso. Clarice fechou os olhos por mais tempo que uma piscada normal e sentiu a tristeza em seu coração. Summer precisava entender que ela a amava.

– Tanto faz. Eu vou tomar um banho.

Summer não deixou Clarice responder e subiu as escadas correndo. Aquela conversa estava ficando emotiva demais. Ela devia muito para sua mentora. Querendo ou não Clarice salvara sua vida, ela não tinha do que reclamar. Aquele podia ser o jeito dela retribuir o favor. Era difícil para Summer saber que alguém a ama, por toda sua vida o amor nunca foi um sentimento dedicado a ela. Summer sempre estava acostumada a receber o pior de tudo.

Depois de se despir a garota encarou seu reflexo pálido no espelho. Várias tatuagens espalhadas pela sua pele. Uma tentativa de se esconder as marcas do passado. Esconder quem realmente ela era. Lembranças a atingiram como um soco. Novamente a vontade filha da puta de chorar. Outra vez, a força incrível da garota para reprimir as lágrimas. Ela caminhou lentamente para o banheiro em seu quarto. Ligou o chuveiro e se colocou debaixo da agua quente. O passado deixou sua mente dando lugar às expectativas do futuro. Ela certamente decepcionaria Clarice. Não havia a chance de gostarem dela. Dos amigos de Max gostarem dela. Depois de um tempo ela acabaria tendo que voltar para Manchester. Essa viagem serviria apenas para uma coisa na opinião da garota. Seria a oportunidade para ela jogar na cara de Max a desconsideração dele em não visitar a avó. Ela poderia incomodá-lo um pouco como forma de punição. O pensamento fez um quase sorriso aparecer nos lábios bem desenhados dela.

Nota final: Essa Melissa, namorada de Max, é a réplica da personagem Melissa da fanfic "I'll be your strength" (Escrita por mim, Keren ou K Langdon). Achamos interessante transportar para essa história uma personagem de outra fic. A historia de vida da Melissa dessa fic não é igual a da outra, até porque não poderíamos encaixar uma historia dentro da outra, apenas a personalidade, nome e vínculo com os garotos são iguais.

Eu a Alina esperamos que vocês tenham gostado e continuem acompanhando. 

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